O despertar é aquele momento em que nós nos damos conta que a vida é algo muito maior de que o nosso cotidiano entediante, robotizado, limitado, banalizado e tridimensional. Esses momentos raros de percepção lúcida e consciência ampliada podem ser provocados de diversas maneiras, mas são sempre algo vivenciado intensamente, sentido profundamente e que envolve todo o nosso ser.
Alguns de nós ficamos vislumbrados diante a perfeição de uma paisagem natural, um raiar de sol silencioso, um pôr de sol esplendido ou uma noite estrelada espetacular. Outros sentem-se maravilhados ao assistir o nascimento de uma criança e o surgimento de uma vida nova. Há ainda alguns que se reconhecem como infinitamente pequenos e insignificantes, ao se dar conta da imensidão do universo e da beleza matemática das leis da física que regem a sua estrutura e movimento desde o nível microscópico às distâncias galácticas. E em todos os casos, acontece alguma coisa dentro de nós, no nosso âmago – uma transformação – cujo resultado é que, com certa frequência, nós nos tornamos pessoas melhores a partir daquele evento.
Também pode acontecer na hora que nós nos encontramos diante de uma obra de arte das mais sublimas, quando nós nos perdemos nas linhas harmónicas ou nas pulsações rítmicas de uma música cativante. Ou, às vezes, simplesmente quando vivermos algo tão extraordinário que, por mais que buscamos respostas nos nossos acervos de conhecimento e fontes de sabedoria prediletos, permanecemos sem explicações convincentes.
O que une esses acontecimentos todos é que são transformadores da nossa visão do mundo e do nosso modelo mental e conceitual da realidade. Todos eles nos deixam com a percepção ou sentimento de que há algo além, que não cabe nos confins da nossa realidade atual. São momentos de quebra dos nossos paradigmas internos pessoais, são divisoras de água pois existem claramente o antes e o depois. Somos moldados e mudados pela experiência e muitas vezes saímos dela com uma inquietação, uma sede interna insaciável ou uma vontade forte, não somente de viver aquilo novamente, mas de querer compreender o que se passou.
São momentos de transcendência e de inspiração, nos quais a nossa consciência acaba sendo ampliada de alguma forma, e depois de vivermos tais experiências, nós ficamos com uma nova visão do mundo. E sabemos, na parte mais íntima do nosso ser, que nós nunca mais voltaremos a ser aquela pessoa que éramos antes.
Jul 26, 2018